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Protocolo permite isolar fungo patogénico em anfíbios vivos: balanço de uma década com olhos postos na ética e bem-estar animal


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23/05/2018. Texto de Marta Daniela Santos. Na imagem em destaque: Colónia de quitrídio-dos-anfíbios em cultura pura.

Imagem à esquerda: Distribuição dos lugares (e quantidade de espécies de anfíbios) onde o protocolo foi usado para isolar quitrídios.

Num novo artigo agora publicado na revista Scientific Reports, disponível aqui, uma equipa internacional de investigadores faz um balanço positivo da utilização de um protocolo desenvolvido para isolamento em cultura do fungo quitrídio, responsável pelo declínio de várias espécies de anfíbios por todo o mundo.

O quitrídio (Batrachochytrium dendrobatidis) é um fungo microscópico que afeta a pele de rãs, sapos e outros anfíbios, causando a quitridiomicose – uma doença que ataca a pele destes animais, afetando a sua capacidade de regular os níveis de água e eletrólitos, levando à insuficiência cardíaca. Este fungo é transmitido de animal para animal e propaga-se rapidamente, sendo responsável pelo declínio de várias espécies de anfíbios por todo o mundo, empurrando para a extinção algumas populações.

No estudo agora publicado, é feito um balanço do uso de um protocolo desenvolvido há cerca de uma década por investigadores do Imperial College London e Instituto de Zoologia de Londres (Reino Unido), que tem permitido isolar o fungo sem ter de recorrer apenas a anfíbios já mortos ou eutanaziar os que se encontravam doentes.

“Antes do desenvolvimento deste protocolo era bastante difícil isolar este fungo, pois tínhamos que recorrer apenas a animais mortos, e que tivessem frescas. Assim que um animal morre começam a proliferar bactérias, o que dificulta o isolamento de outros micróbios – neste caso, do quitrídio, que tanto precisávamos de obter em cultura pura”, explica Gonçalo M. Rosa, investigador do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e do Instituto de Zoologia de Londres e um dos autores deste estudo.

Este protocolo permite isolar o quitrídio em qualquer indivíduo vivo infetado, recorrendo, por exemplo, apenas a um corte na ponta de um dedo, sem ser necessário eutanaziar o animal. Através da análise de uma base de dados com registos de isolamento do fungo a nível mundial na última década os investigadores verificaram que, desde a sua criação, este protocolo já foi utilizado em 5 continentes, 23 países e 62 espécies de anfíbios. A utilização generalizada deste protocolo tem permitido aprofundar o estudo deste agente patogénico, como acrescenta Gonçalo: “O nosso trabalho recentemente publicado na revista Science, por exemplo, em que conseguimos determinar a origem da linhagem mais agressiva deste fungo, só foi possível graças à utilização a nível mundial deste protocolo”.

[Recorde-se que este estudo recentemente publicado na Science foi noticiado pelo cE3c aqui]

“O uso deste protocolo conduziu ao isolamento de centenas de culturas e com isso impulsionado o estudo deste agente patogénico e como mitigar o seu impacto. Tem particular relevo numa era em que a investigação procura caminhar cada vez mais de mãos dadas com a ética e o bem-estar animal”, destaca Gonçalo M. Rosa.

Este protocolo experimental foi desenvolvido entre 2008 e 2014 no projeto RACE: Risk Assessment of Chytridiomycosis to European amphibian biodiversity, financiado pela rede BiodivERsA.

 

Referência do artigo:

Fisher MC et al, Development and wordwide use of non-lethal, and minimal population-level impact, protocols for the isolation of amphibian chytrid fungi (2018), Scientific Reports, 8:7772

https://doi.org/10.1038/s41598-018-24472-2

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