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Novo estudo explora como os machos de peixes guppy adaptam o seu comportamento sexual num ambiente competitivo

15/03/2018. Texto de Marta Daniela Santos.

Um estudo agora publicado na revista Animal Behaviour (*) revela que os machos de peixes guppy (Poecilia reticulata) adaptam o seu comportamento de acasalamento de acordo com a ordem pela qual chegam junto de uma fêmea. Os resultados deste estudo – no qual participam Inês Órfão e Susana Varela, investigadoras do cE3c-FCUL - ajudam a esclarecer como evoluíram os mecanismos de reprodução nesta espécie.

Os guppies (Poecilia reticulata) são uma espécie de peixe de água doce conhecida pelo facto de as fêmeas terem múltiplos parceiros sexuais durante a mesma época de acasalamento. Este comportamento é conhecido por poliandria, e é mais comum na Natureza do que inicialmente se pensava. As fêmeas guppy têm a capacidade de armazenar o esperma de vários parceiros de acasalamento, potencialmente permitindo-lhes escolher os melhores genes para a sua descendência. Ao mesmo tempo os machos guppy desenvolveram formas de ultrapassar essa escolha.

E é aqui que as coisas começam a ficar complicadas: se por um lado as fêmeas estão mais recetivas aos machos que as abordam em primeiro lugar, tornando-se gradualmente mais exigentes com os parceiros sexuais seguintes... por outro lado o macho que acasalar em último lugar tem uma maior probabilidade de ser pai de mais descendentes, pois o seu esperma é mais competitivo do que o esperma do rival.

No estudo agora publicado, os investigadores quiseram compreender se o facto de o macho conhecer o passado sexual recente da fêmea – observando se já tinha ou não sido abordada por rivais – o levava a adaptar o seu comportamento na hora de a abordar. Para isso, num tanque em laboratório avaliaram a resposta dos machos em três cenários distintos: (1) em que o macho era o único a perseguir a fêmea durante todo o tempo de interação, (2) em que o macho era o primeiro a abordar a fêmea, na presença de um rival, (3) em que o macho era o segundo a abordar a fêmea, após um rival.

“Observámos que os machos guppy escolhem aproximar-se de uma fêmea independentemente de esta se encontrar sozinha ou estar a ser seguida por outros machos, sugerindo que não têm preferência por nenhum contexto”, explica Inês Órfão, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) e do Centro de Filosofia das Ciências, ambos sediados na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. “No entanto, os machos que se aproximam da fêmea antes de rivais tentam acasalar mais vezes do que os machos que se encontram sozinhos com a fêmea ou que se aproximam depois de rivais!”, acrescenta a investigadora.

O cenário em que os machos abordavam a fêmea em primeiro lugar era o que apresentava mais riscos com a chegada de um rival – e foi também este o cenário em que os machos mais investiram os seus esforços. Os resultados revelam assim que os machos adaptam o seu comportamento sexual de acordo com o ambiente competitivo em que se encontram.

Este estudo resulta da colaboração entre investigadores da Universidade de Lisboa, Universidade de Aveiro, Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e Universidade de St. Andrews (Reino Unido). Os resultados ajudam a esclarecer como evoluíram os mecanismos de reprodução nesta espécie, revelando que, ao longo do processo evolutivo, os machos guppy desenvolveram estratégias para defender tanto o sucesso reprodutivo como o sucesso de fertilização.

 

(*) I. Órfão, A. F. Ojanguren, M. Barbosa, L. Vicente, S. A.M. Varela & A. E. Magurran, How pre- and postcopulatory sexual selection influence male mating decisions in a promiscuous species, Animal Behaviour, Vol. 136, 2018, Pp 147-157.

https://doi.org/10.1016/j.anbehav.2017.12.013


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