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Avaliar o nível de ingestão de flúor...pela ponta dos dedos

20/06/2016. Texto por Marta Daniela Santos.

As unhas são um biomarcador fidedigno para avaliar os níveis de ingestão de flúor em crianças e adultos: esta é a conclusão de um estudo agora publicado na revista científica Chemosphere (*), que pela primeira vez comparou em simultâneo para adultos e crianças a eficácia de dois biomarcadores para avaliação do nível de ingestão de flúor. Este estudo representa uma contribuição para um melhor controlo da ingestão de flúor em excesso, um problema de saúde pública que ocorre atualmente em várias partes do mundo.  

Embora o flúor seja um mineral absorvido pelos nossos ossos e dentes, não é fundamental para o nosso desenvolvimento. A sua ingestão em pequenas quantidades – cerca de 1 miligrama por litro – pode diminuir a ocorrência de cáries dentárias, especialmente em crianças. Mas a ingestão de flúor em excesso provoca alterações nos ossos e dentes, como a fluorose: uma doença generalizada em várias partes do mundo, normalmente relacionada com a ingestão de níveis elevados de flúor através da água.

Os níveis de flúor são frequentemente elevados em águas subterrâneas de regiões com atividade vulcânica, devido à lenta dissolução nestas águas dos sais minerais das rochas e dos gases vulcânicos. Esta questão é particularmente importante nos Açores, dada a sua origem geológica e os seus níveis de sismicidade e vulcanismo. Os níveis elevados de flúor em água potável em várias regiões do mundo constituem um problema de saúde pública, sendo necessário determinar quais os biomarcadores que melhor permitem avaliar os níveis de ingestão de flúor.

São vários os tecidos ou fluídos biológicos que se utilizam para avaliar o nível de ingestão de flúor, sendo as unhas e a urina os mais utilizados por serem de mais fácil recolha. No entanto desconhecia-se a eficácia relativa destes dois biomarcadores para populações de faixas etárias distintas, como adultos e crianças. O estudo agora publicado é inovador ao fazer esta comparação e ao realizar esta avaliação em áreas geográficas cujos níveis de flúor em água potável se sabem estar dentro dos níveis recomendados legalmente ou pouco acima.

Os investigadores realizaram este estudo em quatro freguesias da Ilha de São Miguel, Açores: Ribeira Quente, Porto Formoso, Furnas e Sete Cidades. Participaram 66 crianças e 63 adultos, de forma anónima e voluntária. Após um questionário inicial sobre os seus hábitos alimentares e de higiene oral, foram recolhidas amostras da água potável em cada habitação, e amostras de urina e unhas dos pés de cada participante. Os resultados demonstraram que as unhas são o biomarcador mais eficaz e mais versátil, por reflectirem de forma mais correcta os níveis de flúor ingeridos em períodos de tempo mais longos tanto por adultos como por crianças, e por poderem ser recolhidas de forma não-invasiva.

Patrícia Ventura Garcia, investigadora cE3c e co-autora do artigo, refere: “É cada vez mais importante avaliar os efeitos do ambiente sobre a saúde das populações. No entanto, apesar do caracter inovador deste estudo e e da utilidade destes biomarcadores, será útil validá-lo em populações de maiores dimensões e em outras regiões do mundo, com vista à sua inclusão em programas de biomonitorização humana de exposição a flúor”.

 

Artigo com download gratuito até 24 de junho:

(*) Linhares, D.P.S., Garcia, P.V., Amaral, L., Ferreira, T., Cury, J.A., Vieiram W. & Rodrigues, A.S. (2016) Sensitivity of two biomarkers for biomonitoring exposure to fluoride in children and women: a study in a volcanic area. Chemosphere, 155, 614–620.

DOI:10.1016/j.chemosphere.2016.04.092 


Tags: IERS

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